segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O Pranto de Maria Parda - Gil Vicente

Dramaturgia

   Este monólogo é uma "lamentação" posta na boca de uma velha bêbeda que, além disso, é mulata (e por isso se chama "Parda") - personagem "que viu as ruas de Lisboa com tão poucos ramos nas tavernas e o vinho tão caro, e ela não podia viver sem ele". 
   Escrito em 1522, este monólogo veio a ser muito popular e teve numerosas reedições.(...) Houve em 1522 uma terrível fome no reino. Os camponeses esfaimados morriam ao longo dos caminhos. A falta de vinho relaciona-se portanto, com a falta ve víveres em geral. Integrado neste contexto, o Pranto de Maria Parda reveste toda a sua significação. (...) Como não ver que Maria Parda a morrer à sede, é a imagem invertida dos desgraçados que morriam à fome? Mas Maria Parda é uma velha, uma bêbeda, e mais ainda: uma mulata. Por isso é necessariamente ridícula. O seu desespero é cómico, o seu testemunho burlesco. Faz rir - e isso é uma maneira de exorcizar o drama da fome. O Pranto de Maria Parda, por conseguinte, é uma paródia. Este texto pertence ao "mundo às avessas". No estilo da chocarrice popular, esconjura e elimina o sofrimento e a morte.

Paul Teyssier, in "Gil Vicente - o autor e a Obra", Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1982 (http://dupond.ci.uc.pt/ tagv/2002/11/t_pranto.htm)

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