quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Rebelde (Inglês de Sousa)

Adaptado de Marcos Teixeira e Maheus Martins, 
por Maria Onice Esteves


 “O rebelde” é a narrativa da vida de Luís (contada por ele), seu contato com Paulo da Rocha, um veterano da Revolução Pernambucana de 1817, habitante agora de Vila Bela, e a experiência da fuga da Cabanagem vivida pelos dois, juntamente com Padre João da Costa, Júlia, filha de Paulo, e d. Mariquinhas, mãe de Luís, após a morte de Guilherme da Silveira, pai deste último. Os acontecimentos pertencem à década de 1830, mas o relato data de 40 anos depois, como o próprio narrador afirma no início do conto.
Nas duas primeiras partes, temos a descrição da vida modesta de Júlia e Paulo da Rocha e o afeto que o jovem Luís nutria pelo velho pernambucano, desprezado e temido por toda Vila Bela. Além de Luís, padre João parece ser o único habitante daquele lugar que não temia Paulo, dando a este o cargo de sacristão. Cria-se, então, um mito em torno do personagem, visto por alguns como um homem cruel e por outros como assombração. 

Na terceira parte do conto surge a referência à Cabanagem. O medo projetado sobre Paulo se desloca para os rebeldes que se aproximavam de Óbidos. Padre João pede ao velho que interceda pela cidade e faça frente aos rebeldes que se aproximam. Paulo da Rocha, retomando seu passado rebelde, faz um discurso em defesa da Cabanagem, o que espanta Padre João e Luís, que assistia ao diálogo. Desaprova as atrocidades, mas compreende os motivos.  
Na quarta parte, Luís narra o estremecimento de sua relação com o velho veterano, após aquela conversa, e diz se sentir envergonhado, pela simpatia que ainda nutria por Paulo. Fica sabendo da jura de morte que Matias Paxiúba, líder de alguns cabanos, fizera ao seu pai, Guilherme da Silveira, por ter este prendido e chicoteado aquele rebelde.
A quinta parte traz o episódio da invasão da casa de Luís e o assassinato de Guilherme da Silveira. Antes de morrer, o português pede desculpas a Paulo e implora para que salve seu filho. O pedido é aceito com uma jura de fidelidade. Conseguem fugir da guerra Padre João, Luís, d. Mariquinhas e Júlia, todos conduzidos por Paulo da Rocha.  
A sexta parte traz o relato da primeira paragem daquela fuga: o grupo liderado por Paulo se abriga no sítio de uma conhecida deste último, uma velha chamada Andresa. Neste momento, uma desconfiança começa a se criar em torno da honestidade do pernambucano, cuja fala demonstra muita simpatia pela causa cabana.
Na sétima parte, um grupo de cabanos, a mando de Matias Paxiúba, chega ao sítio da velha Andresa. Os refugiados se escondem, temerosos de estarem sendo procurados pelo bando que queria completar a vingança iniciada com a morte de Guilherme da Silveira. O narrador, do alto de uma mangueira, assiste a um espetáculo impressionante: Paulo da Rocha enfrentando, através da argumentação, sozinho, aquele grupo de aproximadamente cem pessoas. Trava-se então um diálogo tenso: o veterano de Pernambuco questiona insistente e agressivamente a imprudência de invadirem um sítio de um brasileiro como eles. Luís, que assistia a tudo, se surpreende ao ver aquele grupo famoso pelas barbaridades que cometia amuar diante dos argumentos de Paulo da Rocha. Após as perguntas de Paulo da Rocha, um dos rebeldes explica os motivos que estavam a mando de Matias Paxiúba, que queria conversar com o velho rebelde. Este então manda avisar ao líder cabano que em breve irá ao seu encontro.
Na oitava parte, o grupo refugiado no sítio da velha Andresa pensa em garantir a própria segurança no período em que Paulo se ausentasse. Decidem se esconder em uma casa no meio do mato, construída pelo velho veterano para se abrigar nos tempos em que ficava pescando. Paulo e Júlia seguem ao encontro dos cabanos. Passados quinze dias, Paulo voltava só e triste. Perguntado sobre Júlia, o pernambucano responde que a filha ficara como refém de Paxiúba, já que este pedira àquele para se ausentar a fim de tratar de negócios urgentes em Serpa, quando na verdade queria era levar os refugiados àquela vila, onde poderiam sair do território dominado pelos cabanos. Neste momento, o narrador conta o que se passara durante o encontro de Paxiúba e Paulo. Uma testemunha ocular, anos depois, lhe narra o acontecido. O líder dos cabanos já sabia que o velho salvara Luís e a mãe e exige que os entregue. Paulo se nega, dizendo ter jurado defender o menino. Após insultos e ameaças, Paulo desafia o cabano a uma briga, a que Matias recusa, dizendo que faria Júlia de refém. É neste momento que o rebelde de 1817 se retira e segue para salvar os refugiados e conduzi-los a Serpa. Depois disso, Paulo da Rocha volta ao encontro de Paxiúba e Luís nunca mais teve notícia dos dois. Padre João da Costa teve sua saúde minada acabando por morrer tempos depois. Luís termina a oitava parte contando que, terminada a Cabanagem, segue para Olinda, a fim de cursar Direito, e passa um bom período sem voltar ao Pará. 
Na nona e última parte, o narrador, sendo já juiz municipal e delegado de polícia de Óbidos, no Pará, narra a conversa com o tenente-coronel responsável pela fortaleza transformada em cadeia de justiça. No diálogo, Luís descobre que aquele oficial fora quem liderou o grupo que deteve o bando de Matias Paxiúba e que daquele grupo de cabanos, conseguiram fazer um único prisioneiro: um velho pernambucano que saía de uma cabana carregando sua filha (aparentemente morta) e jurara não pertencer ao bando de Matias, mas que fora aprisionado assim mesmo. O tenente afirma ainda que o velho até então estava preso ali. Luís se emociona e se encontra com Paulo da Rocha, que a princípio não o reconhece, mas depois chora abraçado ao seu pescoço. O conto termina com a breve referência aos esforços de Luís para o perdão, da parte da justiça, de Paulo da Rocha, o que, após um ano, consegue alcançar. Dois dias depois da liberdade, o velho pernambucano falece na casa do narrador, em seus braços.   

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